PMG da Barroso está chegando ao fim, com previsão de entrega no segundo semestre

Navio concluiu sua segunda docagem do Período de Manutenção Geral, que deverá terminar neste ano de 2024 para entrega ao setor operativo – Poder Naval traz uma compilação de contratos de serviços realizados e equipamentos adquiridos para o PMG da corveta Barroso

PMG da Barroso está chegando ao fim, com previsão de entrega no segundo semestre

No dia 18 de março, o  Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ) informou em nota a conclusão da segunda docagem da corveta Barroso (V34), conforme previsto no Período de Manutenção Geral (PMG) do navio. A corveta esteve docada no Dique Almirante Jardim de 22 de novembro de 2023 a 18 de março de 2024. A primeira docagem do PMG foi no ano passado.

O AMRJ informou que, após a desdocagem, serão realizados outros reparos previstos no PMG, porém com o navio atracado ao Cais Norte do Arsenal. Após estes reparos que finalizarão o PMG, a entrega do navio ao setor operativo está programada para o segundo semestre de 2024, ainda segundo o AMRJ. Com esta previsão o tempo total da Barroso em PMG deverá chegar a 4 anos, aproximadamente.

A nota do AMRJ informou a realização de diversos serviços durante esta segunda docagem, com destaque para os seguintes:  tratamento, pintura e hidrojateamento das obras vivas, instalação de 83 ânodos de sacrifício, embarque dos motores de combustão auxiliar (MCA) 1 e 2, substituição de selos do casco mecânico e inflável e embarque do novo Grupo de Osmose Reversa (GOR) na Praça de Máquinas à Vante (PMV).

Na docagem anterior, finalizada em abril de 2023, o navio teve substituídos os pés de galinha de bombordo (BB) e boreste (BE) que são estruturas presas aos cascos, à popa, onde são fixadas as partes externas dos eixos que movimentam os hélices. Também foram realizados serviços de reparo no domo do sonar, substituição do sino do ecobatímetro, reparos dos selos de casco (BB e BE) e dos hélices de passo controlável (BB e BE).

Outros detalhes do PMG da corveta Barroso

O Período de Manutenção Geral da Barroso foi iniciado pouco tempo depois do retorno do navio de sua última missão na UNIFIL, a Operação Líbano XVI, realizada entre agosto de 2019 e maio de 2020.

Vale destacar que a partida se deu antes da pandemia do Coronavírus, com o retorno após o início da emergência sanitária. A pandemia causou diversos transtornos às cadeias globais de fornecimento de equipamentos navais e de defesa, assim como restrições nos serviços de manutenção e fornecimento por empresas locais, o que certamente resultou em dificuldades para a execução do PMG, algumas das quais são relatadas abaixo.

O Poder Naval pesquisou no Diário Oficial da União a publicação de contratações de diversos serviços e aquisições de equipamentos para o PMG da Barroso. A lista a seguir não abarca todos os trabalhos realizados, mas serve para acrescentar alguns detalhes e dar uma ideia geral de alguns dos itens mais caros ou difíceis de serem substituídos, no navio, nestes últimos 4 anos de duração do Período de Manutenção Geral, assim como os custos de alguns dos equipamentos e serviços.

A mencionada troca dos pés de galinha do navio já havia sido objeto de licitação divulgada em outubro de 2019, quando a corveta Barroso ainda estava em plena Operação Líbano XVI.  O contrato para fornecimento destes dois itens, porém, só foi assinado em julho de 2020, no valor de R$ 726.999,00 e vigência de 215 dias, junto à empresa Electro Aço. Como informado mais acima, os dois pés de galinha foram instalados na docagem finalizada em abril de 2023.

Em abril de 2021 foi divulgado aviso de licitação para 105 itens sobressalentes para a corveta (não encontramos mais detalhes dessa licitação), e em julho do mesmo ano foi contratada (por inexigibilidade de licitação) a empresa Zanini Renk equipamentos industriais para serviço de inspeção geral da engrenagem redutora (que faz a transmissão e ajuste da rotação dos eixos dos motores diesel e da turbina aos eixos dos hélices), por R$ 552.989,47.

Pelo número do processo, foi possível verificar a anulação dessa inexigibilidade em 18 de março do ano seguinte e que a mesma empresa aparece em outro extrato de inexigibilidade de licitação (com a justificativa da empresa ser possuidora de carta de exclusividade sobre os serviços de garantia do fabricante e único fornecedor de sobressalentes) divulgado em 21 de março de 2022 e referente ao mesmo tipo de serviço, agora no valor global de R$ 664.287,89.

O contrato foi efetivamente assinado com este valor em 7 de abril de 2022.

Provavelmente houve dificuldades, nesse meio-tempo entre os avisos de inexigibilidade, para pactuar o início da execução do serviço e depois para a efetiva prestação do mesmo: no dia seguinte foi publicada portaria modificando o período original previsto para o serviço, que iria de 8 de abril a 5 de agosto de 2022, para 6 de agosto de 2022 até 1 de fevereiro de 2023, e o contrato foi rescindido em 10 de outubro de 2022, de forma “amigável”, segundo o extrato de rescisão.

Voltando às informações divulgadas ainda em 2021, no mês de agosto foi contratado (também por inexigibilidade de licitação) o fornecimento de dois itens entre os mais caros do PMG do navio: dois motores de Combustão Principais (MCP), modelo 16V1163TB93, incluindo todos os sistemas, subsistemas, equipamentos, componentes, acessórios e instrumentos, prontos para serem instalados a bordo, junto à empresa alemã MTU Friedrichshafen GmbH.

O valor divulgado foi de € 4.620.000,00 (quatro milhões, seiscentos e vinte mil euros), incluindo a assistência técnica para instalação e colocação em operação (testes e comissionamento). Na cotação da época (31 de agosto de 2021) esse valor correspondia a aproximadamente 28 milhões de reais, ou 25 milhões na cotação de hoje.

Já no ano de 2022, em fevereiro, foi licitada a modernização do Sistema de Proteção Catódica (SPC), declarada deserta no mês seguinte por “não acudirem interessados”. Foi aberta nova licitação em abril do mesmo ano, a qual aparentemente também não foi bem-sucedida. Voltaremos a este assunto no relato dos acontecimentos de 2023.

Ainda no mês de abril de 2022, foi  informada a inexigibilidade de licitação para contratar a empresa Safran Electronics e Defense Brazil para “prestação de serviços de pesquisa de pane e soluções técnicas de manutenção e correção posteriores no  navegador inercial SIGMA 40 e sua interface com o Sistema de Armas” da Barroso, no valor de R$ 210.937,33. O contrato foi assinado em 2 de maio, mas em setembro de 2022 o prazo de execução com vigência prevista de doze meses (início em 02/05/22 e encerramento em 01/05/2023), foi prorrogado para 1 de julho de 2023, e depois novamente esticado para 30 de julho.

Em junho de 2022, foi informada a contratação, em processo de inexigibilidade de licitação, da empresa Vicel Comércio Industrial e Serviços para manutenção e fornecimento de sobressalentes originais nas UTAS modelo Omnipure fabricadas pela empresa De Nora Water Technologies LCC (antiga Seven Trent De Nora LCC), visando capacitar o navio “com um sistema de efluentes confiável, de modo a permitir suas navegações”. O valor global informado foi de R$ 1.762.931,00.

O ano de 2023 viu renascer a licitação para modernização do Sistema de Proteção Catódica (SPC), em aviso de tomada de preços publicado em 10 de abril. Os meses seguintes se passaram com publicações de avisos de inabilitação de diversas empresas, novos prazos para entregas de propostas, e mais uma revogação publicada em outubro.  Não encontramos mais referências à contratação desse serviço mas, como vimos, na docagem finalizada em março deste ano foram instalados 83 ânodos de sacrifício no casco.

Ainda sobre o ano de 2023, localizamos no DOU outras três licitações de itens importantes: modernização do grupo frigorífico, do sistema de controle de ar condicionado e de aquisição de grupo de osmose reversa. Como nos parágrafos anteriores já demos uma ideia das idas e vindas desses processos, não vamos nos estender nas aberturas das licitações, classificação das empresas etc. Vamos resumir as efetivas contratações:

O serviço de modernização do sistema frigorífico da corveta Barroso incluía, conforme o aviso de licitação divulgado em setembro, a “substituição de compressores, condensadores, fluido refrigerante e painel controlador das plantas frigoríficas do sistema de refrigeração, com fornecimento de materiais e equipamentos, documentação e treinamento para a correta operação do sistema”. Foi contratada em 16 de novembro de 2023 a empresa Engepon Equipamentos para Refrigeração Ltda, pelo valor de R$ 1.450.000,00 e vigência até novembro de 2025 (ultrapassando, assim, o prazo divulgado para volta do navio ao setor operativo no segundo semestre deste ano, o que provavelmente se refere ao treinamento para operação do sistema e eventuais garantias, e não aos serviços de substituição dos equipamentos mencionados).

Para a modernização do sistema de controle de ar condicionado, o que inclui o fornecimento de materiais, equipamentos e documentação, foi contratada em 27 de novembro de 2023 a empresa SKM Eletro Eletrônica Ltda, com o valor total de R$ 1.621.668,00 e vigência até 27 de setembro de 2025.

Já o Grupo de Osmose Reversa, com capacidade para produção de 16 t/dia ou mais, foi adquirido em 29 de novembro com a ECOMAC – Manutenção de Máquinas e Equipamentos Ltda, no valor total de R$ 312.423,11 e vigência até 29 de julho de 2025. Como informado no início da matéria, o Grupo de Osmose Reversa já foi embarcado no navio.

Infelizmente o PMG não incluiu uma grande modernização

Quando ocorreu a disputa para o programa da classe “Tamandaré”, havia uma expectativa para que uma ampla modernização da corveta Barroso fosse incluída num pacote de compensações (offset) do contrato, o que incluiria sistemas de armas da nova classe. Porém, as negociações das compensações com o consórcio vencedor, a SPE Águas Azuis acabaram não incluindo uma modernização da Barroso.

A justificativa foi noticiada pelo portal  Jane’s em março de 2020 (quando o navio ainda realizava a Operação Líbano XVI, ou seja, antes do início do PMG): “os riscos técnicos envolvidos no projeto de compensação relacionados à modernização da Barroso foram analisados durante a fase de negociação da aquisição dos quatro navios. Constatou-se que havia uma alta probabilidade de não ter sucesso, devido à complexidade de adaptar o sistema de combate da Barroso para receber os sistemas que serão utilizados na classe “Tamandaré”, acrescentou a Força Naval”.

Restará ver a corveta Barroso de volta à ativa no segundo semestre, se não houver atraso, após a realização de todos os trabalhos e instalação dos equipamentos mencionados mais acima  (e provavelmente outros tantos que não localizamos) durante um PMG de 4 anos, para mais um ciclo operativo. Esse novo ciclo deve avançar pela próxima década, com o navio exibindo a configuração de armas, sensores e sistemas da época de sua incorporação, em 2008.

Fonte:  Fernando "Nunão" De Martini - Poder Naval

Por: (LCN) Luís Celso News

E-mail: luiscelsonews@gmail.com