Logística integrada é a chave para distribuição de insumos agropecuários. Como fazer isso?

Operação elementar na economia brasileira é impulsionada pela busca de eficiência operacional, que cria a necessidade de enfrentar desafios para melhorar a rentabilidade

Logística integrada é a chave para distribuição de insumos agropecuários. Como fazer isso?

O setor de distribuição de insumos agropecuários passa por consolidação, com alguns investidores estratégicos (indústria e fundos de investimentos) buscando escala, posicionamento e diferenciação, abrindo lojas próprias, adquirindo distribuidores e revendas regionais. Esse movimento tem impulsionado a expansão e o surgimento de plataformas de distribuição, promovendo maior eficiência operacional e buscando atender as demandas cada vez mais específicas dos clientes, tendo a logística como a fator crítico de sucesso neste segmento do agronegócio.

Neste ano de 2024, em função da queda dos preços das commodities e dos insumos, houve uma redução do apetite das empresas que passaram a buscar maior eficiência operacional, sendo a logística um importante elo na cadeia de abastecimento deste setor até a porteira.

Independentemente do posicionamento estratégico da empresa — seja de liderança em produto, seja de intimidade com o cliente ou de foco na excelência operacional —, as atividades como gestão de estoques, movimentação, armazenagem, transporte, gerenciamento de riscos e todo ecossistema envolvido com as ações logísticas podem primeiro servir como alavanca de margem, com potenciais savings e melhoria da rentabilidade do negócio na última linha, e em seguida, trazer oportunidades de novos serviços no futuro.

GESTÃO DA LOGÍSTICA INTEGRADA: INDÚSTRIA E DISTRIBUIÇÃO 

Antes de pensar no futuro, é importante ter um olhar crítico para a cadeia de forma integrada, considerando os dados históricos e do presente e identificando os principais desafios da indústria e gargalos para construir uma gestão integrada com a distribuição.

O primeiro passo é modelar o processo de gestão até o abastecimento e a entrega por meio do ciclo de S&OP (Sales and Operation Planning), que representa uma metodologia estruturada e periódica de consolidação de informações oriundas de diferentes áreas (Marketing, Vendas, Suprimentos, Operações e Finanças) que são revisadas, debatidas e analisadas visando a melhor tomada de decisão. A implementação desse processo permite ter um plano funcional, garantindo, em todas as áreas, a correta alocação de recursos, processos, capacidades, restrições e disponibilidades, tudo diretamente alinhado com as diretrizes estratégicas da empresa.

O segundo passo é garantir a execução no S&OE (Sales and Operation Execution) e aderência ao novo formato absorvendo as transformações constantes, seja no meio físico ou digital, levando para o cliente soluções para desafios complexos, tais como estoques distribuídos em várias lojas que demandam espaços físicos, requisitos regulatórios, custos com seguro e gerenciamento de riscos, entre outros.

E, finalmente, o mais importante: o custo de servir. Trata-se de um KPI relevante, que deve ser visto de forma abrangente, incluindo custos fixos com pessoal alocado na logística; custo de capital empregado em estoques; custos de sistemas; custo de movimentação, armazenagem e transportes, seja feito por caminhões próprios, motoristas autônomos, operadores logísticos e transportadoras, seja por consultores de vendas que realizam as entregas.

MODELO DE ABASTECIMENTO DE CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO E LOJAS

A cadeia de ofertantes de insumos é organizada com suas plantas de formulação de defensivos agrícolas, misturadoras de fertilizantes, produção e beneficiamento de sementes.

Devido às características sazonais e regionais da produção agropecuária do Brasil, a capacidade instalada não permite operar com o modelo make to order, por conta das dimensões continentais de nosso país e a localização dessas plantas, distantes das maiores regiões de produção agrícola que necessitam dos insumos agropecuários. Esse cenário direciona então a indústria a atuar no modelo make to stock, com o push system, passando o estoque para os canais de distribuição que estão mais próximos do produtor rural.

Nesse ambiente de negócio, onde as janelas de início de plantio são curtas — assim como a demanda para uso dos insumos requer respostas rápidas —, surge a necessidade de armazenagem avançada e criação de um modelo de abastecimento contínuo entre indústria e canais (cooperativas e revendas).

Pesquisas e dados de mercado apontam que as revendas são responsáveis por entregarem cerca de 40% de todos os insumos que chegam aos produtores rurais em todo o território nacional, se incluirmos as cooperativas este volume pode chegar a 70%. 

Fica evidente que a logística não pode estar separada da agenda comercial entre as indústrias e os canais de distribuição. A capacidade de armazenagem da cadeia com um todo se utilizada de forma integrada, otimizada com inteligência, propicia aumento da eficiência operacional e redução de custos para todos os agentes envolvidos.

DESAFIO DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS

Para complementar a cadeia de abastecimento, é necessário entender as tendências e oportunidades do transporte de cargas no agronegócio, que passa por uma demanda ainda mais acelerada de serviços de fretes concentrados em algumas regiões, fortalecendo o setor com a competitividade de preços.

Um destaque importante entre esses agentes são as logtechs, empresas de tecnologia dedicadas a reduzir e/ou eliminar as dificuldades nos processos logísticos. Elas oferecem soluções inovadoras focadas na experiência do usuário, visando aumentar a produtividade e compreender melhor as necessidades de embarcadores e transportadores. As logtechs se concentram em fornecer tecnologia aplicada à logística, totalmente integrada de ponta a ponta, buscando a fidelização dos motoristas e atraindo embarcadores e transportadoras do setor do agronegócio.

Ao considerar a contratação de uma logtech, é essencial avaliar soluções que impactem os custos com fretes, evitando focar apenas no valor por tonelada (R$/ton). Essa abordagem limitada pode restringir oportunidades e expor as empresas embarcadoras a riscos inerentes à atividade de transporte, como cobertura de seguros e gerenciamento de riscos, além de itens obrigatórios por lei, como o pagamento de vale-pedágio, entre outros.

Além disso, é importante considerar na gestão do transporte a segurança da carga e dos agentes responsáveis pela logística da carga. Historicamente, existe um aumento significativo de ocorrências, principalmente no que se refere a roubos e furtos em determinadas regiões pelo tipo específico de mercadoria. Para mitigar e restringir a ação de quadrilhas especializadas, alguns produtos para serem transportados e segurados possuem limites de valor embarcado como uma forma de diluir o risco.

UM OLHAR ATENTO PARA A CADEIA

Nesse ambiente competitivo, onde cada hectare é disputado por diversas empresas, é crucial que a indústria e a distribuição de insumos incentivem iniciativas e projetos de inovação entre seus profissionais de logística. Promover parcerias e trazer soluções integradas por meio de logtechs, que englobem armazenamento, transporte e segurança/gerenciamento de riscos, é essencial.

Mais importante do que a inovação é a necessidade de construir uma visão holística da cadeia logística, considerando não apenas os processos, mas também o elemento humano, que diariamente desempenha um papel fundamental para que as cargas sejam transportadas com velocidade e segurança.


* Rafael Vieira é especialista em Supply Chain, Logística, Distribuição, Procurement e Gestão de Cadeias de Suprimentos.

** Matheus Cônsoli é sócio-fundador da Markestrat Group e Harven Agribusiness School, especialista em estratégia de negócios e acesso a mercado.

*** Fábio Delsin é associado à Markestrat Group.

Fonte: Mundo Logística

Por: (LCN) Luís Celso News

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